Importância da Mediação de Conflitos na Escola
A escola tem um papel fundamental no processo de mediação de conflitos, pois proporciona aos estudantes as ferramentas para entender como as relações são constituídas desde o micro (família, escola, bairro) até o macro (cidade, país, mundo), assim como a capacidade de intervir e de modificar essas relações.
Para Araújo (2008), os conflitos devem ser usados como oportunidades de aprendizagem emocional, pois contribuem na formação, no amadurecimento e na convivência entre as pessoas. A escola é um ambiente rico em situações conflitantes e os educadores devem aproveitá-las, a fim de desenvolver o diálogo, o respeito e o equilíbrio no clima escolar.
Existem diversas formas para promover a resolução dos conflitos, o que não podemos jamais é ignorá-los. Assim sendo, é fundamental que o ambiente escolar proporcione relações baseadas em respeito, tolerância e solidariedade. Um aspecto importante se refere aos valores e à coerência entre o discurso e as ações.
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E AS COMPETÊNCIAS DA BNCC
A Base Nacional Comum Curricular — BNCC (documento de caráter normativo e obrigatório) — orienta as escolas a respeito do que os estudantes devem saber (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e o que devem saber fazer (mobilização das aprendizagens para resolver as demandas da vida cotidiana), no sentido de promover neles a formação e o desenvolvimento global durante cada etapa da educação básica. Além disso, o documento apresenta dez Competências Gerais consideradas fundamentais para os estudantes, dentre elas:
8ª – “Autoconhecimento e autocuidado – Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas”.
O estudante deve construir um senso coerente de si mesmo, ser capaz de identificar seus pontos fortes e fracos, ou seja, cuidar do bem-estar e do equilíbrio emocional para enfrentar pressões sociais e investir no seu aprimoramento. Além de avaliar sua forma de pensar, integrando a prática reflexiva ao seu cotidiano. Identifica-se nas aulas das diferentes áreas do conhecimento, quando o estudante acessa conhecimentos para reconhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, pois entende o que está sentindo, percebe que é capaz de superar desafios, trabalha habilidades corporais distintas e manifesta seus sentimentos nas diversas linguagens artísticas e gêneros textuais.
9ª – “Empatia e cooperação – Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza”.
Propõe o exercício da empatia, do diálogo, da resolução de conflitos, da cooperação, de ser solidário, de dialogar e colaborar com todos, respeitar a diversidade social, econômica, política e cultural. Envolve valorização da diversidade, alteridade (reconhecimento do outro), acolhimento da perspectiva do outro, diálogo e convivência, colaboração e mediação de conflitos.
O estudante precisa saber interagir, aprender com outras culturas e combater o preconceito; ser capaz de compreender a emoção dos outros, abrir mão de interesses pessoais para resolver conflitos que ameaçam as necessidades dos outros e que demandam conciliação, além de compreender as situações a partir do ponto de vista do outro. Essas competências são garantidas nas aulas das diferentes áreas do conhecimento, por exemplo, quando os estudantes aprendem a respeito dos conflitos que marcaram a história da humanidade com destaque para a falta de empatia e resistência às diferenças, resultando em intolerância e disputas; quando o docente propõe produções artísticas coletivas, ou atividades de investigação em grupo com divisão de tarefas e união dos saberes de cada um para chegar à solução de problema.
10ª – “Responsabilidade e cidadania – Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”.
Estabelece a necessidade de desenvolver nos estudantes a consciência de que podem ser agentes transformadores na construção de uma sociedade mais democrática, justa, solidária e sustentável. Lembrando que ser capaz de agir de maneira responsável e cidadã passa pelo entendimento da influência da política e da economia na construção da sociedade, sobre quais processos resultaram (e ainda resultam) em desigualdades sociais e seus efeitos.
Também depende da compreensão do que significa ser ético, entre outros pontos, do uso adequado dos recursos naturais com iniciativas possíveis de incorporar em seu cotidiano. Podemos citar como exemplo a elaboração de campanhas para mobilização das pessoas no combate a preconceitos ou adoção de hábitos sustentáveis.
A construção da autonomia e a tomada de decisões são aspectos importantes dessa competência e exigem ação prática, por exemplo, quando os docentes permitem que os estudantes façam escolhas sobre a atividade que será feita e identificam as consequências de suas decisões. E quando exercitada além da sala de aula, nos espaços de participação da escola.
Portanto, a mediação escolar é um instrumento de singular importância para melhorar a qualidade de convivência dentro do espaço escolar, pois apresenta-se como uma estratégia de diálogo e de encontro interpessoal com a utilização de técnicas e saberes da comunicação e da negociação cooperativa entre os protagonistas do conflito. Para concluir, vale citar Rodrigues (2016): embora seja crescente o número de escolas e projetos educativos que adotam procedimentos e princípios ligados à mediação, ainda há poucas experiências de efetiva implantação.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, U. Resolução de conflitos e assembleias escolares. Cadernos de Educação, FaE/PPGE/UFPel, Pelotas, p. 115-131, jul./dez. 2008. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/viewFile/1743/1623. Acesso em: 7 ago. 2021.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 18 maio 2021.
RODRIGUES, M. V. B. B. A mediação escolar e a redução da violência: um estudo de caso. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.
06/01/2022 – Teresinha Morais da Silva – Autora do livro Educação Integral ou Parcial? Reflexões para além da extensão do tempo (Editora Appris, 2019)
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