Os olhares e a cidade
Por Orivaldo Rocha da Silva, autor de Desvelar o Olhar que (Re)Cria: O Mito e a Cidade
Os estudos envolvendo o espaço na literatura atestam, com poucas variações, que a esse elemento nem sempre foi dado tratamento equivalente ao de outras categorias narrativas.
Em tempos da chamada estética do Arcadismo, cronologicamente situado em meados do século 18, as referências ao espaço limitavam-se a certa concepção de espaço-paisagem ou mero pano de fundo.
Já na segunda metade do 19 literário – predomínio da visão realista-naturalista – dada a ênfase a uma concepção ligada à literatura como representação verossímil da realidade, o espaço ainda poderia ser considerado como elemento secundário, embora obras do chamado Naturalismo tivessem elevado a questão do espaço literário a um patamar diferenciado de percepção no todo da obra, muito por conta da influência de aspectos de teorias deterministas na concepção das personagens postas em contato e como produtos do meio físico.
Mas há também no literário o espaço focalizado por meio das cidades. E há cidades que são cantadas em prosa e verso, e há cidades que fazem parte do imaginário ativo de tanta gente.
E ainda, há cidades que apenas aparentemente são invisíveis, ou que se mostram assim a esperar pelo olhar certeiro, pelo olhar com olhos de enxergar que a elas seja lançado. Pelo olhar que desvele e as revele plenamente como um espaço, afinal, carregado de sentidos, povoado de narrativas veladas. À espera de que sejam contadas.
E será apenas por força desse olhar – com olhos de enxergar – que, de fato, uma cidade inteira vai poder ser criada. Ou recriada.
Orivaldo Rocha da Silva é paulistano, professor universitário e formador de professores na área de Linguagens. Atuou na Educação básica, na rede escolar SESI, por quase 10 anos. Foi publicitário, por outros tantos. No dia a dia da cidade louca, cultua seus heróis das guitarras pesadas (enquanto ainda estão por aqui): pelas estampas das camisetas pretas que sempre usa, mantém viva a chama. Aos 60, nem sente. E vive como aos 30. É a literatura que o move. E comove.
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