DESCRIÇÃO
Para além das mortes vividas, a pandemia que vivemos nos últimos dois anos, e que ainda nos assombra, trouxe em seu bojo novas formas de vivenciar a dor antes inimagináveis. Como Antígonas, muitos não pudemos enterrar nossos mortos. Como zubis, perdemos a dimensão de olhar um rosto sem máscara. O contato com o outro se tornou sinal de perigo iminente, transformando qualquer um em possível inimigo. Adoecemos trancados em casa e a violência doméstica explodiu. Encerrados em nossas celas fomos perdendo a dimensão da cidade onde vivemos e onde nos acostumamos a interagir. Passamos a viver em um condomínio de quatro paredes. A tela passou a ser nossa aliada em uma tentativa de reproduzir antigos contatos e novas formas de sociabilidade. Privilegiados os que têm as quatro paredes e uma boa tela! Ínfima parcela da população. Neste cenário de incertezas, angústias e muita dor o corpo não poderia deixar de falar -, desde as doenças psicossomáticas, transtornos alimentares e estupros, apenas para mencionar algumas falas, o corpo compareceu com toda a sua dramaticidade em nosso cotidiano. Em O corpo que resta… corpo, luto e memória as organizadoras dão seguimento às pesquisas que vêm sendo realizadas em parceria com o Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-LIPIS abordando alguns dos aspectos observados, não apensas na clínica, como também no cotidiano onde todos estamos inseridos. O que lembrar e o que esquecer? Devemos esquecer nossa dívida com os mortos? Como sobreviver? Há possibilidade de elaboração? Como seguir adiante sem apagar o caminho trilhado? Estas são algumas das questões abordadas por profissionais de diferentes áreas, como faz parte da tradição das pesquisas de ambas com mais de 10 anos de existência agora em parceria com LAPSI da Universidade Veiga de Almeida nesta 5ª coletânea da série.
Augusto Sampaio
Vice-Reitor Comunitário
PUC-Rio
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