DESCRIÇÃO
Este livro tem o objetivo de responder à seguinte questão: é possível abordar a música negra nas escolas, ao som do tambor africano, de modo a promover a aceitação e valorização desse instrumento e, consequentemente, da cultura afrobrasileira? Com a intenção de refletir e encontrar caminhos para iluminar essa questão, realizou-se um trabalho de campo na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e na Escola Municipal Saturnino Pereira, ambas situadas no município de São Paulo, durante três anos, com turmas de 6.º, 7.º 8.º e 9.º anos. Por meio de uma proposta de docência compartilhada com os professores dessas turmas, foram realizadas intervenções conjuntas em sala de aula, como forma de suscitar, especialmente entre os jovens afrodescendentes, um olhar crítico a toda forma de estigmatização do tambor e da sonoridade de matriz africana que dele emana. Em busca de novas práticas educacionais e analisando detalhadamente o cotidiano escolar, ao introduzir práticas e saberes dos afrodescendentes, promoveram-se “rupturas de campo” em duas dimensões do universo escolar: a) nos rituais e práticas de ensino em sala de aula; b) no imaginário da cultura escolar, envolvendo professores e alunos, a propósito do tambor. Os estudos realizados apontam que o tambor ocupa um lugar central nos rituais de religiões de matriz africana, opondo-se aos instrumentos eurocêntricos e consagrados pelo mainstream, e que talvez, por isso mesmo, seja considerado inferior, do mesmo modo como toda a cultura proveniente da África. Dessa maneira, verifica-se uma série de estereótipos relacionados à cultura afrobrasileira, presentes nas atitudes de alguns docentes e alunos em face do instrumento, que tem dificultado a valorização, por parte dos estudantes afrodescendentes, de sua própria cultura. A fundamentação teórica que orientou tais reflexões baseou-se, principalmente, nas obras de Munanga (2005), Caputo (2012), Leite (2008), Gilroy (2001), Herrmann (2001) e Schafer (2011).
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