O livro A Ética do Prazer: o epicurismo renascente de Lorenzo Valla é um prato cheio para quem considera que o bem viver também pede uma boa mesa, em boa companhia. Assim é retratado o modo de vida simples dos epicuristas pelo jovem italiano Lorenzo Valla, em seu diálogo Do Prazer (século XV), aqui comentado. Valla foi responsável por trazer de volta à cena, na cultura renascente de seu tempo, a doutrina dos seguidores de Epicuro, recolhida a partir dos espólios manuscritos de autores diversos, conservados ou encontrados ainda naquela época. Exemplo disso é o poema grandioso de Lucrécio, até hoje uma das mais ricas fontes do epicurismo, descoberto cerca de 10 anos antes da escrita do diálogo de Valla. A novidade da descoberta certamente foi um estímulo para o autor, que reproduziu na obra um diálogo entre homens de vasta cultura e de grande projeção pública, reunidos em momentos de lazer, por diferentes lugares de Roma, para arguir e bromear, para disputar acerca da causa dos epicuristas contra os estoicos e nos incitar à arte do belo discurso, a Retórica. Tudo isso é descrito de modo elegante, por meio de uma conversa livre em que o prazer, ou o Sumo Bem, ao modo de Epicuro — “o filósofo do Jardim” —, é um grande guia e mestre da vida.