DESCRIÇÃO
Afinal, o que se quer precisamente dizer quando se afirma que um Estado é laico, que uma constituição é laica ou o ensino é laico? Indubitavelmente se quer dar a entender que esses domínios são impermeáveis à interferência divina e à influência da religião. Se assim o é, caberia continuar perguntando agora sobre a natureza dessa afirmação: seria ela uma ficção, isto é, uma mentira? Seria apenas um ideal ético pregado por filósofos ingênuos, que acreditam que os homens são naturalmente bons e solidários, de forma que a autorreferência das normas éticas corresponderiam àquela bondade e àquela solidariedade? Ou seria, o que é grave, a manifestação isolada de um movimento geral, deflagrado no renascimento e reforçado na Revolução Francesa, dirigido contra o cristianismo, ao mesmo tempo que direcionado a restaurar a civilização pagã?
A tese defendida neste livro nada mais é do que uma tentativa de dar respostas convincentes a tais indagações. Conscientes de que respondê-las exigiria mais do que a simples formulação de hipóteses, começamos por investigar fatos históricos que proporcionassem um testemunho vivo acerca da realidade social que viu nascer o espírito laico: seus personagens, seus hábitos, suas convicções, suas ideias, de sorte que, esgotando o estudo dessa sociedade, julgávamos que isso seria suficiente para compreender bem o laicismo dentre os seus numerosos fenômenos culturais. Estávamos equivocados. Cumpria-nos aprofundar mais a pesquisa dos fatos. Fazê-lo significava retroceder até o berço das civilizações que disputavam entre si a hegemonia no curso do processo histórico do Ocidente. Era preciso examinar o papel do império romano na história, as características de sua civilização, sua religião, sua filosofia, sua literatura, seu direito, seus hábitos e sua queda. Da mesma forma, urgia conhecer outro tanto a respeito do cristianismo, sua recepção no seio do império, seu apogeu na idade média, suas obras e suas vicissitudes no período pré-renascentista.
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