Das Migrações: Processos Culturais e Construção da Identidade no Sul do Rio Grande do Sul
R$74.00
O estrangeiro é por definição um “atopos, sem lugar, deslocado, inclassificável”, como apontou Bourdieu. Sua aparição tem o poder de revirar tradições inteiras, de por em questão verdades conservadas em milênios. O estrangeiro é, no sentido psicanalítico, o outro por excelência, um espelho cujo reflexo (des)alinha a imagem do “eu” e mesmo do “nós”. Daí a força de que se revestem as ações que o rejeitam.
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O estrangeiro é por definição um “atopos, sem lugar, deslocado, inclassificável”, como apontou Bourdieu. Sua aparição tem o poder de revirar tradições inteiras, de por em questão verdades conservadas em milênios. O estrangeiro é, no sentido psicanalítico, o outro por excelência, um espelho cujo reflexo (des)alinha a imagem do “eu” e mesmo do “nós”. Daí a força de que se revestem as ações que o rejeitam. Vemo-lo desde textos mais antigos, ilustrado no drama do judeu errante assim como na imensa vaga de refugiados que doravante avança aos limites do mundo. A simples presença de seu corpo constrange; a insinuação de seus gestos perturba as mais finas teias do tênue tecido social em que nos movemos cotidianamente. Mas o que podemos aprender com ele? O que a eterna desordem que o estrangeiro encarna pode nos mostrar sobre o funcionamento mais íntimo, as normas mais tácitas – aquelas de que já não nos damos conta, as quais simplesmente obedecemos e que, por isso mesmo, nos põem vulneráveis – de nossas sociedades? Em um mundo “globalizado”, como admitir a irreversibilidade de sociedades inexoravelmente afrontadas pelo drama personificado no estrangeiro, sem que isso signifique o seu desmonte e ao mesmo tempo sem que a sua conservação se dê unicamente pelo ataque e expulsão dessa figura tão temida e ameaçadora? Afinal de contas, onde é que ele nos ameaça? O que de fato está em disputa em sua rejeição mais expressiva? Seriam os cada vez mais escassos postos de trabalho disponíveis no mercado de trabalho? O acirramento da competição por parceiros no mercado matrimonial? Ou os bens simbólicos – como status e identidade – em um mercado cuja lógica se ancora, sobretudo, no privilégio que significa ser nativo? Este livro investe diretamente sobre esses pontos. Munidos das ferramentas oferecidas pela ampla variedade dos domínios das Ciências Sociais, demonstramos como a figura do estrangeiro pode desvelar os mecanismos de conservação de toda uma configuração social sustentada pela continuidade não questionada de seu desdobramento cotidiano. Mais do que isso, como o estrangeiro pode revelar aquilo que não vemos justamente pelo excesso de visão que alcançamos. Aqui o estrangeiro aparece sob a alcunha de “baiano” e o contexto em que ele emerge é a cidade de Rio Grande-RS, no extremo sul do Sul do Brasil. É sobre os processos de sua construção que se debruça a investigação que deu corpo a este livro.
Informação adicional
Peso | 300 g |
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Dimensões | 23 × 16 × 2 cm |
ISBN | 978-65-5523-358-2 |