Ensaios Republicanos é um marco nos estudos de filosofia política no Brasil, colocando o autor entre os grandes estudiosos do republicanismo e um dos inovadores da reflexão sobre temas contemporâneos, que devem muito à tradição republicana.
No Brasil, os estudos sobre o republicanismo começaram nos anos 1990 inicialmente em torno do pensamento de Maquiavel e dos humanistas italianos, para depois se expandir para épocas e temas mais amplos. Os trabalhos de Luís Falcão fazem parte dessa segunda onda de estudos e alcançaram uma notável amplitude. Ótimo conhecedor do pensamento de Maquiavel, ele soube ampliar o espectro de suas leituras para tempos muito distantes daquele do secretário florentino. Ao mesmo tempo em que explora as obras de um contemporâneo e amigo de Maquiavel, Donato Giannotti, Luís Falcão pesquisa sua repercussão na Inglaterra do século XVII, estudando autores que nem sempre são conhecidos fora dos ciclos mais eruditos.
Assim, na Inglaterra ele conversa com James Harrington, que é conhecido por seus vínculos com o pensamento de Maquiavel e por ter defendido a república na década de 1650. Além disso, Luís visita em profundidade a obra de Algernon Sidney, um outro pensador republicano que soube criar seus próprios referenciais teóricos, para pensar o problema da implantação da república num território que até então se mantivera distante da tradição romana e italiana.
Na França do século seguinte, sua démarche é ainda mais original. Luís Falcão expande seu olhar para dois autores que têm laços com o republicanismo, mas que também são associados ao desenvolvimento do liberalismo francês: Montesquieu e Benjamin Constant. No primeiro, Luís busca os conceitos básicos de uma análise sociológica das sociedades da época, que deve muito mais à tradição republicana do que muitos de seus intérpretes costumam aceitar. No segundo, ele explora as tensões nascidas de uma vida vivida entre dois universos intelectuais.
O livro nos reserva ainda momentos saborosos. O diálogo de Luís com Philip Pettit é uma pérola de erudição e sagacidade. Reconhecendo a importância do filósofo, ele se aplica em desconstruir seus caminhos teóricos, revelando ao mesmo tempo a força de alguns de seus argumentos e a fragilidade de uma estratégia conceitual que nem sempre revela seus fundamentos.