DESCRIÇÃO
Somente entendemos o que nos acontece depois que o mar acalma e podemos analisar a situação como um todo. Ao nos permitir o desgaste, a ação ruidosa do tempo ressurge com uma roupagem tão nova, tão justa, que a ruína vira beleza inigualável.
Quando se está dentro do furacão, a perspectiva do ruído é nada mais que natural; se o contexto é furacão, entenderemos furacão como ordinário. Uma vez que passa o momento crítico, a poeira abaixa, faz-se uma faxina, recolhendo o pó e entendendo dele o tempo caótico que passou. É como estar afixado, na impossibilidade de realizar, na impossibilidade de andar para frente. Muitas vezes, quando andando em círculos até chegar o momento de mais uma faxina, recolher o pó é entender o que se passou.
É possível viver uma vida inteira sem perder a poesia? Por que a perdemos? O ato de escrever, o ato de desenhar, o ato de criar pensamento, as faxinas periódicas na calma que desestrutura. Existem os hiatos, inegáveis e íntegros, mas há de existir o retorno. É uma lei que não é humana, mas não necessariamente é divina. A paciência que é aguardar o pó novamente cobrir as superfícies. E então limpar de novo. Este é um convite para se apartar e se remendar.
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