DESCRIÇÃO
O presente livro apresenta resultados de estudo realizado sobre a cerâmica figurativa produzida pelas mulheres Inỹ , do povo indígena brasileiro conhecido como os Karajá, com base em pesquisa contextual, integrando dados bibliográfi cos, museográfi cos e de pesquisa de campo etnográfi ca. As ritxoko, como são chamadas pelas ceramistas Inỹ , são examinadas nos seus aspectos materiais, formais, sígnicos, estilísticos e sociais, segundo uma perspectiva histórica, preconizada pela Teoria da Praxis, que considera que mudanças veri ficadas nos diversos âmbitos resultam de agências múltiplas em contínua e dinâmica interação — agências internas (ceramistas e cultura karajá) e externas (compradores e cultura nacional envolvente), humanas (intenções conscientes) e não humanas (contingências materiais), histórico-estruturais (previsíveis) e circunstanciais (não previsíveis). Nesta perspectiva, a instituição de peculiar aspecto morfológico nas ritxoko, a saliência abdominal, como marca sígnica do gênero feminino pelas ceramistas karajá é analisada como resultado de processo de “exaptação”, segundo proposição teórica de S. J. Gould (1979, 1991). A saliência abdominal poderia ser considerada como mais um exemplo de um “spandrel” cultural. Com base em material bibliográfi co, no estudo das coleções etnográ ficas de cerâmica karajá do acervo do Setor de Etnologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro e em informações obtidas em pesquisa de campo, propõe-se a hipótese de que a origem das atuais ritxoko karajá remonta à tradicional prática de modelagem de figuras em miniatura com cera de abelha, tybora. O trabalho de campo também gerou uma etnografi a da tecnologia oleira karajá. Por fim, o estudo traça o percurso das ritxoko, de sua origem como brinquedo de criança, de produção eventual, a peças produzidas em escala para fins comerciais, voltadas para um crescente mercado de arte e artesanato indígena. Neste processo, e no novo contexto, as ritxoko se tornam expressões artísticas que, de forma silenciosa, porém eloquente, ecoam vozes femininas karajá. Por meio de suas ritxoko, as ceramistas falam visualmente e afi rmativamente sobre suas vidas e cultura, tanto para a sua própria gente, os Inỹ , como para o mundo tori.
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