Entre a década de 1970 e o início da seguinte, o encontro de milhares de jovens com a história e sonoridades da canção popular brasileira difundida em décadas anteriores deu-se nas bancas de revistas. Dentre eles, o autor destas linhas. Encontro possibilitado pela produção e comercialização de três versões da coleção História da Música Popular Brasileira, organizada pela Abril Cultural, vendida em fascículos, a preços módicos, e composta por parte textual/imagética e discográfica.

É certo que canções populares compostas entre os anos de 1930 e 1950 chegassem aos ouvidos daqueles jovens via (re)interpretações de músicos da chamada MPB. Ainda que os registros fonográficos deles com canções populares do período áureo do rádio não se restringissem a seus LPs – dado, à época, difundidos por emissoras de rádio FM e, por vezes, interpretados por músicos emepebistas na telinha da TV –, era a Coleção que possibilitava a milhares de jovens e demais interessados na música popular brasileira, espalhados Brasil afora, tomar conhecimento de elementos históricos sobre canções populares na vida musical nacional, bem como registros fonográficos originais de várias delas quando de seus lançamentos no passado. Longe se estava das possibilidades que a internet abriria ao acesso de informações e dados similares, como a de uma infinidade de outros assuntos.

A possibilidade desse encontro é historicamente posicionada neste livro de Vanessa Pironato Milani. Resultante de fértil pesquisa documental, Um gênero e muitos fascículos revela e fornece compreensão histórica sobre a produção e difusão da coleção História da Música Popular Brasileira, os agentes e expedientes investidos em ambas as frentes, os conteúdos, textuais, imagéticos e fonográficos contidos nos seus fascículos. Caminho que permite a autora identificar e explicar como o samba e compositores do gênero ganharam lugar de destaque ao longo das versões da Coleção, a par da identificação e análise de temas mais recorrentes contidos nos sambas reproduzidos nos discos que a integram. Todos elementos focalizados e compreendidos historicamente à luz da interseção entre o debate cultural sobre o ‘nacional-popular’, o universo musical, o campo editorial e o fonográfico; domínios, então, perpassados pela consolidação da indústria cultural no Brasil.