DESCRIÇÃO
“Coisas que hão de vir”! Assim, Rusvênia Luiza Batista Rodrigues da Silva deu sentido ao seu nomos em uma tarde de 2005 na Faculdade de Educação da UFG, em Goiânia, na disciplina que cursávamos juntas do professor Jadir de Moraes Pessoa, intitulada Cultura e Ações Rurais Coletivas. Ao discorrer sobre o texto de Henri Mendras o fez citando e cantando Chico Buarque, e naquele momento a aula que já era muito boa tornou-se esplêndida, encantando de musicalidade a ciência e afirmando o que diz a antropologia contemporânea — que os conteúdos dos conceitos mais sisudos podem e devem tocar a cada um de nós sem intelectualismos.
Quem é ela que de olhos muito vivos, jovem, ainda por cima cantava e bem, voz de contralto. As coisas vieram de fato, e a estudante do doutorado em Geografia revelou-se prodigiosa, porque é incansável na leitura desde a epígrafe dos textos e livros até os rodapés.
Jadir aproximou-nos e os laços foram apertando até que o fio desse afeto nos levou a fazer o trabalho de campo em Cibele e Caiçara no Mato Grosso Goiano. Nessas amarras descobri que a intelectual e pesquisadora era uma apaixonada pelos fios e agulhas e teceu nossas prosas de poesias de Manoel de Barros e dizeres da colcha de retalhos da avó Joana.
Rusvênia é uma verdadeira Malinoswki! “Sentou praça” em Itapuranga, em um trabalho de campo de imersão de fato nos distritos que a margeiam. Trocamos, naqueles povoados, conhecimentos e afetos. Ela enveredou-me pelo caminho do conceito de patrimônio, distrito, lugar, paisagem e eu de cá contribuí com o olhar antropológico do meu métier.
A geógrafa Rusvênia amplia a face estéril desse campo de saberes com a profundidade de um olhar científico, trazendo a Geografia, a mais exata das vertentes das humanas, ao seu lugar de sentido, como interlocutora das vozes dos sujeitos de Cibele e Caiçara. Nesse espaço de escrita que me cabe cochicho pela orelha de vocês: que peguem este livro fruto de estudo e investigação sérios. Tomem-no, descansadas a exemplo dela e de mim no alpendre de Seu Losa, em Cibele, no intermezzo das taciturnas atividades, em meio à pandemia de 2020 e que se arrasta o indolente Jeca Tatu, tal o tempo nesses esquecidos lugares. E que sorvam os saberes que hão de vir.
Goiânia, fevereiro de 2021.
Prof.ª Maria Emília Carvalho de Araujo Vieira
Doutora em Educação. Especialista em Antropologia
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