Por Cecília Decarli, autora de Educação Emocional: Conexões e Possibilidades com a Educação Científica
A Educação Emocional é um conceito amplo no qual gerenciar as emoções é essencial para consolidar um projeto de vida individual e a convivência harmônica e saudável em sociedade. Diversas áreas correlacionadas à educação e à psicologia abordam a Educação Emocional associada aos diferentes saberes, sendo que esta tem caráter contínuo e permanente.
A Educação Emocional emerge como um componente essencial do processo educativo contemporâneo, sendo reconhecida não apenas como um meio de qualificar o desempenho nos processos de ensino e aprendizagem, mas também como uma precursora do bem-estar social e da felicidade coletiva. Nesse contexto, ao explorar essas temáticas e enfatizar a compreensão e o gerenciamento das emoções, esses podem transformar positivamente a vida de indivíduos e comunidades, por meio de indicadores e disseminação da temática no âmbito da formação de professores.
A Educação Emocional está relacionada ao desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à inteligência emocional e outras vertentes teóricas que permeiam o campo das emoções, que englobam a capacidade de identificar, compreender e regular as próprias emoções e as dos outros. Quando estimulada na escola, gera subsídios para que os sujeitos lidem melhor com desafios da vida de maneira construtiva e adaptativa.
Além disso, a Educação Emocional desempenha um papel crucial na prevenção de conflitos e no desenvolvimento de habilidades de resolução pacífica de problemas. Indivíduos que possuem um alto grau de inteligência emocional tendem a lidar com conflitos de maneira construtiva, buscando soluções que atendam às necessidades de todas as partes envolvidas. Isso, por sua vez, contribui para a redução de conflitos interpessoais, fomentando um ambiente social mais harmonioso.
A felicidade está intimamente ligada a esses aspectos. A capacidade de compreender e regular as próprias emoções, cultivar relacionamentos saudáveis e resolver conflitos de forma pacífica cria um terreno fértil para a satisfação pessoal e a felicidade. Indivíduos que se sentem emocionalmente competentes e conectados com outros têm maior probabilidade de vivenciar uma sensação duradoura de bem-estar e contentamento.
No âmbito social e cultural, a Educação Emocional torna as relações mais saudáveis e gratificantes, por meio da empatia e compreensão interpessoal, que contribui para o bem-estar social e a felicidade coletiva. Diante disso, você já deve ter se perguntado, mas como desenvolver a Educação Emocional na escola de forma que tenhamos respaldo para afirmar que tais práticas geraram bem-estar e felicidade?
Para responder esse questionamento, primeiramente precisamos ressaltar o período vivenciado na contemporaneidade e suas características, os tempos de cultura digital e inteligência artificial, nos quais a informação encontra-se na palma da mão de crianças e jovens e a informação lança-se em tempo recorde a diferentes espaços. Isso denota relações pessoais mais frágeis e relações virtuais diferenciadas, e esse ponto torna-se importante no debate das emoções, pois diante do exposto é essencial um equilíbrio emocional e relações sociais saudáveis e interpessoais.
Estabelecer práticas amorosas e afetivas nos processos de ensino e aprendizagem na escola básica e em outros níveis de ensino superior são sementes plantadas para o futuro, nas quais o professor verifica a qualidade e mudanças positivas já na sua aplicação, mas enquanto mudança de comportamento de uma sociedade é uma construção.
Essa construção precisa ser em rede de apoio, práticas educativas de sucesso precisam ser disseminadas por meio de recursos educacionais abertos e reutilizadas e adaptadas a diferentes realidades por outros educadores que julgarem necessárias a sua prática.
Para obter um respaldo legal disso, é necessário que seja construído uma metodologia sólida em relação a políticas públicas envolvendo este tema tão emergente na educação, que são as emoções. A curricularização da Educação Emocional nos cursos de licenciaturas é o pontapé inicial deste desafio, para que professores passem a aplicar de fato tais práticas no cotidiano escolar, o que já é respaldado pelo documento curricular orientador da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Na sequência, é necessário que a temática esteja evidente no Projeto Político Pedagógico das instituições e na rotina escolar, na qual diagnosticar e mapear estudantes socioemocionalmente é uma prioridade na educação.
Após a atribuição real da Educação Emocional em todos os níveis de ensino que se envolvem direta ou indiretamente com a educação básica, é essencial medir o nível de bem-estar social e de felicidade coletiva da nação, por meio de pilares estabelecidos pelo índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), que se constituem de: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente e governança.
Uma nação que educa para a felicidade e não preocupa-se só com a economia terá avanços significativos em todas as áreas. Sabemos que isso ainda é um projeto tímido diante todas as aspirações para a educação atual e futura no Brasil, e que ainda não medimos o real impacto deste trabalho, tampouco se tem sua verdadeira valoração, então, enquanto professores, que lutam por uma educação livre, democrática e libertadora, sabemos que as sementes plantadas hoje nas práticas escolares serão parte de um projeto de nação desenvolvida e feliz.
A Educação Emocional se revela como precursora do bem-estar social e da felicidade coletiva. Ao equipar os indivíduos com habilidades relacionadas à inteligência emocional, estamos construindo alicerces sólidos para relacionamentos mais saudáveis, comunidades mais harmoniosas e uma sociedade mais feliz como um todo.
Portanto, ao reconhecer e investir na Educação Emocional, estamos trilhando um caminho que não apenas enriquece a experiência humana, mas também fortalece a base para um futuro mais próspero e gratificante. Educar para as emoções é essencial e tão importante quanto o ato de alfabetizar e calcular, pois não adianta dominar técnicas e áreas de conhecimento sem gerenciar adequadamente as emoções, pois a resiliência, a abertura para o novo e encarar os desafios impostos pela vida é o que impulsiona a humanidade a concretizar seus sonhos.
Para saber mais sobre o tema, conheça a obra Educação Emocional: conexões e possibilidades com a Educação Científica.
Pós-doutoranda em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutora em Educação em Ciências, pelo Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências da UFRGS; mestra em Biologia, pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Especialista em Gerenciamento Ambiental (Universidade Luterana do Brasil – ULBRA), Tecnologias Educacionais para a prática docente no ensino da saúde na escola (Fiocruz), Neurociência e educação (UniAmérica), Gestão pública (Universidade Federal de Santa Maria – UFSM) e ensino em Filosofia (Universidade Federal de Pelotas – UFPEL). Graduada em Ciências Biológicas (UNISINOS) e Pedagogia (Unicesumar). Professora no IFSul Sapucaia do Sul, professora de Ciências na rede municipal de Campo Bom-RS, professora conteudista na UFSM, já atuou como tutora presencial e professora formadora no âmbito UAB/Capes, palestrante e Bióloga CrBio n.° 81708/03. Autora de diversos artigos científicos na área de Educação Emocional.