A Escola é Adversária da Sociedade?
Por Chico Striquer Soares, autor de A Escolinha no Carreador
No mundo em que estamos vivendo nos deparamos frequentemente com atos de violência praticados contra a escola e a educação, seja no Brasil ou em vários outros países. Esta violência vai desde ataques armados, atingindo estudantes, professores, funcionários e as construções; ataques visando desmoralizar os professores, que são chamados por políticos e formadores de opinião de vagabundos ou maconheiros, entre outros adjetivos depreciativos para qualquer pessoa; desmoralização das instituições de ensino públicas, visando limitar a destinação de recursos para suas construções, manutenção e melhorias. O que mais aparece na mídia e que são mais insistentemente usados para atingir um público mais amplo, são aqueles que têm como consequência a morte de crianças.
Conforme o relatório “Raio-X de 20 anos de ataques a escolas no Brasil”, do Instituto Sou da Paz[1], no período estudado (2002 – 2023) foram registrados 24 ataques, atingindo 25 instituições, com vítimas fatais ou não fatais. Destes, o estudo apontou que dois foram nos dois primeiros anos do estudo e 12 nos dois últimos anos, ou seja, registraram um aumento significativo nos últimos anos. Dentre as escolas, 19 eram públicas e seis privadas. Entre os agressores, mais de 90% eram alunos ou foram alunos nas escolas alvos. Mas, um dos dados que mais me chamou a atenção foi que a maioria dos agressores se situavam em duas faixas de idade: a maioria era menor de 18 anos, sendo oito entre os 13 e 14 anos e cinco com 17 anos de idade.
A solução mais frequentemente discutida na mídia, apresentada pelos órgãos públicos e melhor aceita pela sociedade, é um aumento do efetivo policial no entorno e dentro das unidades de ensino, ou seja, as escolas cívico-militares. Este tipo de segurança é prática, quando nos defrontamos com a violência física, que é o que aparece nas análises destes atos. E quando estes atos acontecem, nós também nos sentimos agredidos, nos coloca em postura de prontidão e alerta para proteger nossos filhos; na escola a reação é de todos contra todos, uma vez que o colega pode ser um agressor; o vizinho de nossa residência pode ser o inimigo e devemos estar armados durante todos os momentos de nossas vidas. Como consequência, perdemos a tranquilidade na sociedade em que vivemos, precisamos fechar a cara, arreganhar os dentes e mostrar nossas unhas para intimidar ao outro. Cada cidadão é um potencial agressor e eu tenho que me postar defensivo diante dele, atacá-lo para não dar tempo para que ele me ataque. Então aceitamos facilmente o controle da violência física com a repressão policial. Apesar destas posturas, os ataques têm aumentado, os governos e administrações não têm tido sucesso em seu controle.
O comportamento de cidadãos se mostrando descontentes e agredindo as escolas e a educação é apenas a ponta de um iceberg muito maior, muito mais complexo do que análises jornalísticas e pontuais. O cidadão que ataca vê a escola e seus ocupantes como seus inimigos que devem ser mortos. A sociedade a vê como uma doença que deve ser combatida, uma praga de deve ser controlada ou um câncer que deve ser extirpado. A pergunta que nasce a partir desta análise é: para que serve a escola e a educação aprendida ali? Ou: qual a visão e a expectativa que as comunidades têm destas instituições?
O livro A escolinha no carreador é um romance que mostra pais e famílias se envolvendo na criação de uma escola para a formação educacional de seus filhos e reações adversas da comunidade aos seus intentos.
SOBRE O AUTOR
Francisco Striquer Soares
Nascido na cidade de Assaí (PR), atualmente reside em Londrina (PR). Possui graduação em licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná, é mestre em Oceanografia Biológica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos
De fevereiro de 1971 até julho de 1981 exerceu as seguintes atividades profissionais de forma alternada: escriturário do Banco Bamerindus; digitador de computador no SERPRO, Bamerindus e IBM em Curitiba, PR, e das Casas Pernambucanas em São Paulo, SP; professor de 1º e 2º Graus e de Cursinho Preparatório para Vestibular em Curitiba, PR, Osasco, SP e Santos, SP; técnico de laboratório no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo; e professor de Anatomia Vegetal da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos, SP.
De abril de 1982 até junho de 2011: professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina, sendo responsável por disciplinas acadêmicas e orientação de estágios de estudantes de ciências biológicas; coordenação de projetos e de laboratórios de pesquisa; ocupou cargos administrativos como chefe e vice-chefe de departamento, vice-diretor de centro, comissões técnicas, disciplinares e administrativas e representação da universidade em comissões municipais, e estaduais
Aposentou pelo Paraná Previdência em 21 de junho de 2011.
CONTATO:
f.striquer@gmail.com
(43) 99658 3262
[1] LANGEANI, Bruno. Raio-X de 20 anos de ataques a escolas no Brasil 2002-2023. [On-line]: Instituto Sou da Paz, 2023. Disponível no site: https://soudapaz.org/wp-content/uploads/2023/05/Raio-x-ataque-a-escolas.pdf. Acesso em: 01 ago. 2023.
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