Por Diones Assis Salla, autor de Na Nuvem: A Amazônia Vista no Futuro
Para falar sobre a Floresta Amazônica de modo comprometido é recomendável estabelecer um processo de convivência prolongada com ela e se credenciar a comentar com mais rigor essa imensidão de complexidades.
Para mergulhar nesse cenário é preciso despir-se de condicionamentos, às vezes até mesmo os tido como científicos. Para dialogar com a Amazônia é preciso se misturar a ela, aprender com ela, ouvir nos silêncios, enxergar nas invisibilidades e nos vazios aparentes. No papel de consciência interessada em andar por esses varadouros é recomendável se desfazer de egos, se livrar de coleiras, sejam elas religiosas, partidárias, ideológicas, idólatras, entre outras, que em certa medida condicionam, aprisionam e enceguecem o indivíduo em sua caminhada evolutiva. Os rituais de qualquer tempo continuam ativos no interior da Amazônia e podem ser sentidos em estado alterado de consciência, alcançados por autodeterminação e por vontade inabalável, sem o uso de qualquer substância ou muleta psicofisiológica. É preciso ouvir o que foi pensado nesse ambiente em tempos remotos, e que ainda gravitam no interior dele, bem como os sentimentos que continuam impregnados nos ambientes vividos durante milênios por gerações antes de nós. Se considerarmos a Amazônia só pelos aspectos físicos visíveis, a exemplo de rios, biodiversidade, lagos, fauna e por seus serviços ambientais, estaremos focados apenas em sua superficialidade. Há muitas outras dimensões interagindo com o Bioma Amazônico, estando coincidentes ou separadas dele, até mesmo a grandes distâncias. O deserto do Saara, por exemplo, mantém relações com a Floresta Amazônia fornecendo-lhe nutrientes de microalgas que compõem sua superfície, mantidas por movimentos de massas atmosféricas. Se colocássemos um cobertor sobre ele, dificultando esse intercâmbio nutricional, em pouco tempo o Bioma Amazônico apresentaria alterações em sua exuberância devido à redução dos carregamentos de fertilidade. Se considerarmos que o Bioma Amazônico é frágil e de resiliência variável, qualquer mudança provocada em outros ecossistemas obriga esse a se modificar para recompor o equilíbrio planetário. Os povos da Floresta Amazônica já perceberam que o aquecimento global está modificando a composição da floresta, onde espécies mais suscetíveis estão desaparecendo, dando lugar a outras mais adaptáveis. Esse processo é silencioso, pouco visível e está provocando perdas de biodiversidade – um comprometimento qualitativo do Bioma Amazônico. É preciso compreender que os responsáveis pelas alterações do Bioma Amazônico não são mais somente as populações que o habitam, mas também aqueles que estão modificando ecossistemas em outros locais. Dito de outro modo, os responsáveis pelas transformações do bioma podem estar atuando longe dele, mais do que se possa imaginar. Os processos de interdependência vão ainda mais além, incluindo relações com o sol, com a lua, com a energia de estrelas mais próximas e com consciências que não se manifestam necessariamente de modo físico, nem sequer são suspeitadas ou detectadas.
Como planejar a Amazônia e os demais biomas se não somos capazes de concebê-los como uma unidade interativa? As responsabilidades precisam ser elucidadas e compartilhadas com aqueles que ainda não se consideram responsáveis pelas mudanças, pelo simples fato de viverem longe desse ambiente. À medida que a lucidez humana avança, o discernimento se aguça e as visões se tornam mais claras, as ações realizadas mesmo à distância do Bioma Amazônico serão incluídas no rol das responsabilidades e consideradas tão impactantes quanto aquelas realizadas in loco.
Se quiser interagir e ajudar a desembaçar o olhar convencional que se tem sobre a Amazônia, leia o Livro NA NUVEM: A Amazônia vista no futuro.
O autor é graduado em Engenharia Agronômica e possui também formação básica em Meteorologia. É Pós-graduado em Planejamento Agrícola, Me. em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, Dr. em Energia na Agricultura. Atualmente dirige um Campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia no interior da Amazônia, estado do Acre, Brasil. O autor é uma consciência que não possui vínculos políticos, ideológicos, religiosos e doutrinários. Age por meio de abordagens universalistas e antibelicistas.