Por Mario Hastenreiter de Souza, autor de Deus enviou o seu anjo: eu o vi nas águas barrentas.
“Eu sou o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno.”
Introdução
A Escritura destaca a iminente invasão dos exércitos da Assíria, fortes e impetuosos como águas de grande inundação sobre aquelas terras férteis da Galileia dos gentios, no contexto histórico das ruínas de Israel e da Síria pelas armas desses estrangeiros sedentos de riquezas. Desde o êxodo do Egito quando os hebreus andavam no deserto em direção à Canaã beberam da pedra – e a pedra era Cristo; comeram o maná do céu – e o pão era Cristo; e contemplaram grandes livramentos. No entanto, ao fim da longa peregrinação entraram na terra prometida e a contaminaram com iniquidades e pecados sem conta, arrancando e destruindo o que fora plantado em seus corações.
Assim, em declarada rebelião e seguindo deuses estranhos, houve a divisão do reino com 10 tribos rompendo a fidelidade a Yahveh ocasionando aos assírios o cativeiro deles. Infelizmente, o Reino do Norte havia sucumbido ao culto pagão e o Reino do Sul entrava em declínio espiritual e moral. Isaías (entre 700-690 a.C.), homem cultíssimo e possuidor do dom de profecia, conhecedor da Lei de Moisés e das intrigas palacianas, compreendendo que a aliança do povo com Yahveh (Dt. 30.11-20) estava inteiramente violada, começou a profetizar inevitáveis o cativeiro e o julgamento para Judá, assim como fora para Israel. Na sequência, pelo ministério de Jeremias (entre 626-586 a.C.), homem de dores que aprendeu a padecer por amor ao povo, Yahweh repreende os restantes dos filhos da nação eleita e determina a devastação do Templo e de Jerusalém pelas mãos dos exércitos da Babilônia. Que sentenças terríveis!
Fundamentação
Em seu mister profético Isaías entremeara o advento escatológico do Príncipe da Paz, o Redentor dos Povos, visto que Yahveh lhe dissera da esperança maior a irromper não em palácios de reis ou de sacerdotes; mas exatamente na Galileia dos gentios (9.2): “o povo que andava em trevas viu uma grande luz e sobre os que habitavam na região e sombra da morte resplandeceu a luz.” Esta profecia irrompeu no ministério de nosso Senhor, quando a Galiléia dos gentios se encontrava debaixo das armas dos imperadores romanos e nas fronteiras do mundo pagão.
Flavio Josefo, historiador judeu, informa o agitado das caravanas, comerciantes e indústrias, bem como a presença de árabes, fenícios, gregos e romanos por toda parte, deixando a impressão de que o elemento estrangeiro era maior do que a população de judeus. Mas entendo que a grande miscelânea de gentes de costumes diversos, falando idiomas diferentes, com crenças e espiritualidade envolvendo cultos a entidades, guias espirituais, ídolos e sacrifícios cultuais, explica a escuridão espiritual e moral ser intensa, de modo a merecer a descrição de Isaías como de “habitarem na região e sombra da morte”. Nada obstante, esse ambiente é eminentemente espiritual, lugar de carentes de discernimento espiritual, de naufrágios na fé, de pastores insensatos e de prisioneiros das concupiscências da carne, onde não deveriam estar; pois “o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo” (1 Jo. 3.8), já despedaçou os instrumentos de guerra do maligno, quebrou o poder do pecado que pesa e todo jugo que oprime e declarou (Ap. 1.18): “Eu Sou o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno.”
Inegavelmente notório é que o povo “viu uma grande luz”. Negar não poderiam, pois viram com os olhos de apalpar com as mãos; olhos de espanto; olhos de comer pão e peixe multiplicados para saciarem a fome em pleno deserto; olhos de testemunhar e olhos de ver colunas encurvadas ficando corretas; coxos correndo; demônios sendo expulsos; doentes sendo curados; leprosos purificados; lunáticos libertados; mortos ressuscitados e paralíticos pulando com olhos de quem se maravilha. Mais do que o esplendor sol em dia claro e sem nuvens, o agir do Filho do Homem era fulgurante, glorioso, libertador, maravilhosamente multifacetado e policromático. Por oportuno, estando em Jerusalém, após lançar no rosto da multidão os pecados dos líderes religiosos e do povo em geral; e perdoar a mulher arrastada para o apedrejamento humilhante e impiedosa morte por mão de pecadores por ter sido apanhada em adultério, Ele declarou enfática e publicamente (Jo. 8.12): “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”
Não cabendo ao homem julgar os planos de Deus porque fogem da humana lógica e limitada sabedoria por melhores que sejam, o tempo correu e chegara a hora de Jesus, o Nazareno – pois assim era conhecido – chamar os que andavam perdidos, dizendo bem alto (Mc. 1.15): “O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho”. Não havia dúvidas: cumpria-se a profecia de Isaías diante deles e fulgurantemente lhes resplandecera a Luz de que precisavam para ficarem livres da cegueira espiritual, das doenças e das legiões de demônios e potestades das trevas.
O convite de Jesus aos primeiros discípulos, envolvidos na pesca com redes lançadas no Mar da Galileia, era impressionante (Mc. 1.17): “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”. O hagiógrafo registra que na sinagoga de Cafarnaum (1. 21-28) “um homem com espírito imundo exclamou, dizendo: Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Viestes destruir-nos? Para maior espanto ainda ouviram: “Bem sei quem és: o Santo de Deus”. Para surpresa de todos relampejou a resposta: “Cala-te e sai dele”.
O convite de Jesus exigia discipulado de tempo integral: deixar tudo! Ora, lançar redes no mar e pescar era de fácil compreensão àqueles pescadores profissionais; porém, essa coisa de pescar homens nas águas misteriosas e profundas, onde moram animais de grande porte que assombram e onde sopram ventos furiosos com mortíferas tempestades era algo incompreensível. O imaginário de cada um moía e remoía: – e nós que atendemos ao convite tudo deixamos, que sucesso teremos nesse empreendimento? Por certo não se lembravam dos danos contra os bens e os filhos de Jó, homem temente a Deus que se desviava do mal e por isto Satanás fez cair fogo do céu para destruir, matar e roubar; e não satisfeito, feriu a Jó de doença dolorida, humilhante e pestilenta. Recompensas maiores sobrepujaram ao que ele perdera.
O convite do Mestre não ignorou que aqueles discípulos eram carentes de discernimento espiritual; de humildade; de profunda simpatia; de um espírito de perdão; de um espírito de oração perseverante e de uma coragem espiritual perseverante e sólida. Porém, o convite do Mestre faz – hoje – o inacreditável: batiza com o Espírito Santo e capacita homens comuns como luzeiros do mundo, ainda que capazes de fraquezas e de paixões como Elias, que orou e fechou os céus por três anos e seis meses, e depois orou e o céu se abriu com chuvas abundantes e a terra produziu o seu fruto (Tg. 5.18).
Ora, falamos de coisas muito além de leituras de liturgias, repetição de rezas e sermões vazios que nada significam contra o pecado, contra os laços do diabo, o pai da mentira; e contra os pesados recalques entrincheirados no coração rebelde que rejeita os constantes e pacientes apelos do Espírito de Cristo para o arrependimento e retorno ao “primeiro amor”. Portanto, o ultimato é celestial: não arranque e nem destrua o que foi pacientemente plantado em seu espírito interior, pois o agir salvífico diz respeito aos “santificados em Cristo Jesus” que o Eterno e Todo-Poderoso quer cheios do Espírito de Cristo em fortalecimento sobrenatural para coisas maiores da redenção, incluindo livrar aqueles que – hoje – habitam na região e sombra da morte.
Para grandeza e glória de Jesus, grande Pastor das ovelhas pelo sangue da Nova Aliança, a graça de Deus é demonstrada fazendo de cada convertido a Cristo um filho de Deus que nasce de novo, é justificado mediante a fé em Cristo e recebe o perdão os antigos pecados; e assim, a paz de Deus que continua excedendo toda a nossa compreensão traz segurança àquele que agora passou da morte para a vida eterna e imortal em Cristo Jesus. Portanto, a inesquecível profecia de Isaías é lembrada nesse contexto de mudança para uma nova disposição de viver, uma nova esperança de realizações na família, no sustento e no testemunho, onde não se deve arrancar o que foi plantado com a preciosa salvação em Cristo Jesus, qual semente que cresce e se torna árvore frutífera com frutos maduros da redenção em Cristo Jesus nosso Senhor.
Por fim, a “igreja de Deus… corpo de Cristo” foi estabelecida para que aleijados, angustiados, cadeirantes, corcundas, desconsolados, desequilibrados, doentes, enfermos, necessitados e oprimidos de todo tipo encontrassem libertação das prisões em sombras e trevas e se refugiassem no amor de Cristo Jesus. Por mais que alguns continuam polindo desculpas de hipocrisias e de incredulidade, nada podemos contra a verdade, se não, pela verdade; pois neste assunto não existem relativos.
Conclusão
Não a alguém em particular (seja Maria ou Pedro); mas foi aos discípulos que o Senhor Jesus delegou autoridade espiritual para pisar “serpentes e escorpiões e sobre toda a força do inimigo” (Lc. 10.19); e ressuscitado dentre os mortos Ele continua determinado a esmagar a cabeça de Satanás (Rm. 16.20). Neste meu pensar, o contrário é arrancar e destruir o que, “pela fé”, já fora plantado e fortalecido pelo Espírito de Cristo no espírito daquele que desenvolve o exercício da “fé em Jesus”, exclusivamente. Por isto o “homem de Deus” não se amolda às “doutrinas de homens”.
O convite do Mestre é – hoje – nesse mundo e nesse tempo em que vivemos, porquanto, a carreira cristã começa na conversão a Cristo Jesus como Senhor e Salvador, cujo esforço inicial é arrancar os homens da cegueira espiritual e moral em que se encontram, por continuarem presos às concupiscências da natureza pecaminosa, como escravos dos pecados e debaixo de condenação de eterna separação de Deus. O convite do Mestre é capaz de colocar os discípulos em colisão com ardis, laços e poderes satânicos e até em confrontos com cabeças de oligarquias sectárias e donos de igrejas.
O grande Pastor das ovelhas pelo sangue da Nova Aliança faz fulgurar a luz do “evangelho da graça de Deus… poder de Deus e sabedoria de Deus” no mais interior do discípulo de Cristo, dele fazendo um luzeiro pentecostal de poder sobrenatural para que ilumine ao redor daqueles que continuam presos às iniquidades e opressões do arqui-inimigo de Deus e de Seu povo e livre os destinados à matança.
Podemos entender a ordem de encerramento do livro escrito pelo profeta Daniel, com o que ele ouviu da parte do anjo Gabriel a respeito de Israel entre as nações e os eventos para os últimos dias: Daniel olhou e viu “o homem vestido de linho branco que estava sobre as águas do rio” e escreveu: “os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, resplandecerão como as estrelas sempre e eternamente” (12. 1-13). Resplandecerão, sim! Serão glorificados e transformados por ocasião do arrebatamento iminente, indivisível e instantâneo da “igreja de Deus… corpo de Cristo”, antes da “grande tribulação” que se aproxima, para o encontro com Aquele que os resgatou dos domínios das sombras e das trevas e foram transportados para o reino do amor de Jesus (Cl. 1.13,14).
Portanto, no contexto da confissão de Pedro “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”, Jesus decretou algo extraordinário (Mt. 16.16-18): “Edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, com isto significando: a “minha igreja” diz respeito aos crentes aqui na terra que devem crer no que Deus disse do jeito que Ele disse; porém, o “reino dos céus” estabelece os domínios celestiais e terreais. Se as portas do inferno representam Satanás e todo mal no mundo em ardis, enfrentamentos e investidas mortais pretendendo destruir aqueles que foram reunidos em “igreja de Deus… corpo de Cristo”, este intento maligno jamais prosperará. Temos da parte de Deus “armas não carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2 Co. 10.4,5).
Para ler mais sobre o tema, conheça o livro Deus enviou o seu anjo: eu o vi nas águas barrentas.
Sobre o autor
Mario Hastenreiter de Souza é Advogado com formação em Direito, Curso da Escola de Magistratura, Curso de Sentenças, Extensão em Criminologia. Psicanálise e Teologia. Autor de artigos e comentários de postagens de terceiros na Revista Eletrônica Cavaleiro Veloz com Doutrinas Fundamentais, Escatologia, Ética Cristã, Hinódia Cristã e denúncias de demandas judiciais inconsequentes em face de cristãos, fruto de ódio oligárquico, religioso e sectário.