O Lúdico e a Psicologia Junguiana
Por Alex Fernandes Nunes, autor de O RPG na Clínica de Grupos: Uma Perspectiva Junguiana
A psicologia e o lúdico estão entrelaçadas intimamente a ponto de podermos considerar que a própria psicoterapia possui elementos lúdicos em sua essência. Podemos perceber este elemento em várias frentes: o uso das artes, seja em oficinas ou na clinica individual para auxilio de expressão e compreensão de nosso cliente; o uso das mesmas ferramentas para tratar, por meio de metáforas, de elementos que não podem ser ditos diretamente; o uso de brincadeiras nas clinicas infantis; assim como os jogos de palavras da terapia tradicional que, mesmo possuindo um caráter mais “sério”, não deixam de serem lúdicos.
Esta relação ocorre por causa de dois elementos muito importantes sobre o lúdico. O primeiro é que o brincar é uma função vital humana, não conseguimos viver uma vida puramente fria e dura voltada ao trabalho e, por este motivo, a indústria do entretenimento gira tanto dinheiro. Nós precisamos do incrível e do mágico, mesmo conscientemente sabendo que trata-se de um “não-real”, inconscientemente sentimos e vivemos como uma realidade, que não se trata da realidade concreta e racional a qual estamos acostumados, mas a realidade irracional da alma, do simbólico e do belo. O segundo motivo é uma decorrência do primeiro, como o brincar, em todas as suas formas da vazão ao inconsciente, funciona como um psicopompo, uma ponte entre o consciente e o inconsciente, que permite aos olhos atentos de um bom terapeuta, reconhecer vários traços inconscientes de seus pacientes que não podem ser percebidos de forma direta.
Devido a isso, todos os terapeutas, mesmo sem ter esses dois pontos como intenções primárias, acabam mergulhando no lúdico de alguma forma, já que, de certo modo, podemos considerar a própria relação transferencial (mais conhecida como a relação analítica) como um jogo de atuação, sendo que muitos usam de forma mais direta como arte. O uso destas técnicas permite o aparecimento dos símbolos, que são a própria linguagem do inconsciente, e, por meio deles, pode-se expressar uma miríade de conteúdos que normalmente não são possíveis, o que não só auxilia no diagnóstico como também no próprio tratamento da pessoa.
Alex Fernandes Nunes
Pós-graduado lato-senso em Psicologia Junguiana pelo IJEP e em Docência no Ensino Superior pelo SENAC. Graduado em Psicologia pela Universidade metodista de São Paulo, atua como psicólogo clinico presencial e online, além de realizar orientação e revisão de trabalhos acadêmicos.
Orcid: 0000-0001-7311-9449
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