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Por Fábio Martins, autor de Teus lábios só não me disseram adeus

Era uma quarta de tarde quando o telefone tocou, minha irmã avisando que meu pai estava internado e que era bom eu ir para a minha cidade logo. Comprei a passagem para o dia seguinte e quando cheguei ele já estava em coma. No domingo de madrugada, morto. Muitos pensam que o luto começa com a morte de alguém querido. Estão errados. Primeiro vem a tristeza, depois o vazio, algumas vezes a revolta, a necessidade de lidar com questões práticas. O luto vem depois, algumas vezes, bem depois.

Ele chega quando percebemos a presença da ausência. Não é bem uma dor, é algo sem nome ainda. Uma espécie de vazio que fica esfregando em seu rosto, passeando em seu corpo, percorrendo os caminhos pelos quais você passa, o tempo todo. O luto é algo indefinível, mas necessário. Há vários livros, textos, reflexões sobre o luto, mas o que aprendi com ele é que é individual. Não existem duas pessoas que passem o mesmo luto, mesmo que sejam da mesma família e tenham perdido a mesma pessoa. O luto é um companheiro que faz amizade com cada um, senta em cada mesa, dorme em cada cama, não compartilha pessoas ou grupos.

Lidar com o luto não é lidar com a perda, é lidar com a ausência, é lidar com algo que você sabe que nunca mais estará ali, é uma espécie de fim de relacionamento só que sem volta. É, muitas vezes, um convite ao silêncio e à depressão, por isso precisamos falar dele, precisamos encará-lo, acolhê-lo, só assim podemos, um dia conseguir superar. Às vezes leva tempo. Vivi um luto da morte de um amigo por quase dez anos, o do meu pai durou menos, talvez por já não ser a primeira vez, mas outra coisa que aprendi, cada luto é único, por mais que você já tenha perdido muitas pessoas e, quanto mais vivemos, mais perdemos; ele continua sendo diferente para cada pessoa que se foi.

Não devemos negar o luto, não devemos fugir dele, até porque ele sempre nos encontra, devemos conviver com ele, aprender a lidar com ele, assumi-lo sem nenhuma vergonha, só assim esse sentimento poderá ser saudável e só assim poderemos aprender que a morte faz parte da vida e que o luto faz parte do amor.

Sobre o autor

Fábio Martins é poeta, escritor e professor, nascido em Santos e criado em São Vicente, ambas no litoral de São Paulo, reside atualmente em Belo Horizonte, cidade que adotou e pela qual foi adotado há onze anos. Autor de um livro de minicontos sobre Belo Horizonte e de alguns livros de poemas, publicou recentemente pela editora Appris Teus Lábios só não me disseram adeus que, entre outros temas, fala do luto. Apaixonado pela vida é um atento observador da alma humana.

Respostas de 12

  1. Excelente esse texto. Perdi meu pai há um ano e, de fato, o luto é como uma cicatriz que não se fecha. Lembro que meu primeiro conflito com essa situação foi ter que aceitar nunca mais vê-lo.
    Parabéns, Fábio Martins. E muito obrigado por esse texto que, além de compartilhar conosco sua história, nos encoraja a abraçar o luto.

  2. “Este é o professor, escritor e poeta que trabalhará conosco!” Assim nos foi apresentado o Fábio. Trabalhamos por um tempo na mesma escola.
    Amante da língua, dos alunos e grande amigo.
    A convivência e a amizade fluíram e o envolvimento com os alunos era o ponto alto nos Ensinos Fundamental II e Ensino Médio.
    Seus livros encantam e cativam . É sempre um presente ler seus poemas, contos e histórias.
    Sucesso Fábio! Vou encomendar “Teus lábios só não me disseram adeus!”
    Um grande abraço.

  3. Texto mais que necessário. Profundo e ao mesmo tempo acessível.
    Cria espaço de acolhimento, entendimento, reflexão e perspectiva de futuro.
    Amei…
    Lendo com os olhos molhados de emoção ❤️🌹

  4. Texto mais que necessário. Profundo e ao mesmo tempo acessível.
    Cria espaço de acolhimento, entendimento, reflexão e perspectiva de futuro.
    Amei…

  5. Somos um livro do luto, somos o luto do luto. E que saibamos respeitar e viver o luto no seu momento único e você, Fábio, sabe dizer e fazer refletir esse momento. Poeta e escritor, breve o retorno da leitura plena desse belo exemplar já adquirido.

  6. Teus lábios só não me disseram adeus é uma
    obra que traduz o cotidiano de quem sofreu uma grande perda, mas não deixa de amar a vida e continuar acreditando no amor. Enquanto elabora o seu luto, Rafaela resgata as memórias do pai e vivencia as mudanças em sua vida como oportunidades de ser sempre melhor. Impossível não se identificar com algum personagem. Leitura fluida, envolvente e deliciosa! Parabéns pela obra, Fábio Martins!

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