DESCRIÇÃO
Este livro, resultado de uma pesquisa de doutorado, busca apresentar uma pesquisa sobre Memória Social de crianças quando do encontro delas com a experiência escolar vivida num passado próximo. Tal movimento investigativo avançou sobre um território pouco conhecido: aquele que perscruta os modos como as crianças se aventuram nas experiências de lembrar e de narrar. Sob a instigação de uma questão em torno do modo como as crianças se lembram, a experiência de linguagem tomada em seus aspectos de produção de sentidos, num cotidiano que se reinventa pelos processos de ressignificação do passado, foi amplamente considerada. Privilegiou-se a habilidade das crianças para o devaneio e para os deslocamentos de linguagem interpelados pela sua capacidade de “produzir semelhanças”. A noção de infância que permeou o caminho investigativo inspirou-se nas proposições histórico-filosóficas e culturais de Walter Benjamin. A Memória tomada na perspectiva dos discursos entrelaçados à dinâmica social dos acontecimentos perpassou o campo epistemológico da História e nesse sentido, buscou-se uma interlocução com diferentes historiadores que têm como prioridade investigativa a Memória, sendo, alguns deles, os seguintes: David Lowenthal; Michael Pollack e Pierre Ansart. Na interface com os acontecimentos vividos pessoalmente e aqueles vividos por tabela no contexto da convivência humana, as crianças transitam por experiências de lembranças, de esquecimentos, de ressentimentos e de silenciamentos. Ao abarcar a temporalidade, as dinâmicas das operações de memória, consubstanciadas nas trocas sociais recorrentes no cotidiano das relações, são transpassadas pela dimensão objetal. Conforme Paul Ricoeur (2007), o que é objetável na constituição da memória social dos acontecimentos não são as lembranças pessoais, mas sim os discursos passíveis da temporalidade que os engendra nas circunstâncias do presente. O motivo desta pesquisa é, portanto, a crença de que as crianças podem reinventar os sentidos de suas experiências com o passado e, dessa forma, reinventar também os sentidos da vida que experienciam nos tempos de seu viver. Ao compreender a criança como protagonista do discurso da memória, procurou-se o caminho metodológico da escuta das suas narrativas sobre as suas experiências escolares, sob a mediação de objetos geradores conforme a perspectiva de Ecléa Bosi, Francisco Régis Ramos e Mario Chagas. Ao privilegiar a voz e o posicionamento das crianças, a ação investigativa conferiu-lhes protagonismo do discurso narrativo. Tal acontecimento alterou o percurso metodológico, uma vez que elas, confiantes da escuta da pesquisadora, deixaram marcas de seus modos de ser criança e de lidar com as lembranças de experiências vividas em tempos de escola.
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