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Por Lívia de Pádua Nóbrega, autora de Robôs e Inteligência Artificial nas Telas: Tecnociência, Imaginário e Política na Ficção

 

O desenvolvimento científico e tecnológico tem alterado intensamente as paisagens contemporâneas. A expressão Inteligência Artificial (IA) saiu do âmbito das empresas e da pesquisa acadêmica para habitar o senso comum. Até então, o contato das pessoas com o tema vinha da ficção, geralmente em tom pessimista, alarmando sobre os riscos de robôs se rebelarem contra a humanidade. Tal excesso convida a refletir sobre preocupações reais e cotidianas envolvendo IA.

Como exemplo estão aplicações em IA nos onipresentes celulares; a Internet das Coisas, com objetos conectados em casas com funções cada vez mais automatizadas; e a imensidão de dados, de todos os tipos, que espalhamos como pegadas que levam diariamente a nós em ações que vão desde os filmes que assistimos e remédios que usamos às possibilidades de rastreio de estados emocionais em que estamos propensos a comprar com um clique. Quando questionados sobre os riscos de fornecermos nossos dados, subestimamos a pergunta, respondendo ingenuamente que não temos o que esconder.

Recentemente, passei a buscar em uma rede social informações sobre moda e estilo. Logo depois, eu, que já tenho casa decorada e não penso em mudar esse cenário, comecei a ser bombardeada por dicas de decoração de perfis com publicidade paga. Reproduzi o “raciocínio” dos algoritmos de recomendação (com os quais interagimos ao consumirmos podcasts, vídeos e obras em plataformas de streaming): se você gosta de moda e estilo, provavelmente, gostará de móveis e decoração. Eu poderia clicar no ícone que me permite dar um feedback para a rede, acionando o comando “não me mostrar esse tipo de conteúdo” e até justificar essa ação e ensinar, gratuitamente, as redes ainda mais sobre mim e lhes poupar o envio de anúncios inúteis. Eu também poderia me interessar por redecorar minha casa com móveis novos e nunca saber até onde, de fato, temos liberdade de escolha ou somos moldados por algoritmos a serviço de corporações e indústrias.

Os exemplos abundam em uma realidade na qual há sempre alguém olhando para nós e por nós. Os robôs que se revoltam contra os humanos na ficção científica parecem uma ameaça menos iminente ante a distopia real desenvolvida com os dados que compartilhamos e sobre os quais precisamos nos tornar conscientes sobre o que realmente significam.

 

 

Para saber mais sobre o tema, conheça a obra Robôs e Inteligência Artificial nas telas: Tecnociência, Imaginário e Política na ficção, de Lívia de Pádua Nóbrega – Doutora em Comunicação pela UFMG; jornalista pela PUC-GO e historiadora pela UFG.

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