Por Paulo Souza, autor de Cria e Trinca.
A mente do povo interiorano é uma fonte fértil de misticismo. Tudo ao seu redor é composto por seres e criaturas lendárias, tão poderosos quanto os deuses das mais antigas civilizações. Ao mesmo tempo em que tais entidades são temidas, também são reverenciadas e cultuadas. Portanto, onde quer que se esteja, sempre há uma divindade à espreita, sedenta por oferenda e faminta de credulidade.
Toda lenda é fantasiosa até que apareça alguém que acredite que tudo é verdade. Para uma pessoa comum, pesadelo não passa de um simples sonho atribulado. Para o povo místico, no entanto, o pesadelo é uma entidade real e poderosa, uma criatura que se achega de uma rede para sufocar seu ocupante em sono profundo, servindo-se das próprias mãos plenas de poder sobrenatural. Quando se diz que se teve um pesadelo, todos entendem que se passou horas noturnas com sonhos perturbadores. Para o homem simples do interior, um pesadelo significa atravessar a noite inteira recebendo a visita dessa criatura mitológica.
Se o pesadelo é uma criatura mística que atormenta o sono de alguém, a visagem também não deixa de ser personificada, adquirindo uma identidade muito mais concreta do que uma simples imagem fantasmagórica. Dizer que se viu uma visagem é afirmar que se esteve diante de um ser materializado e capaz de colocar medo na cabeça de um vivente mortal. Seguindo o mesmo tema, não é difícil perceber, ou até mesmo acreditar, na lenda de um assobiador, uma criatura que atravessa a noite profunda soltando gritos lastimosos e que imitam assovios. E o que dizer do ser sobrenatural, o malino, sobre as costas do qual se atribui tudo que é ruim e imprestável?
Portanto, não se pode simplesmente jogar tais lendas na lixeira das crendices, por mais simples que seja o povo que as criam. Cada ser mitológico criado pelo povo místico é composto por um lado lendário, sobrenatural, e outro baseado em algo verdadeiro, vivenciado por alguém que não conseguiu distinguir o que era real do que era fantasia. Nossas lendas são os resquícios da mente fértil de nossos antepassados.
Para saber mais sobre o tema, conheça as obras Tabuvale, Cria e Trinca.
Sobre o autor
Paulo Souza é escritor e professor da rede pública de ensino na cidade de Coreaú/CE. É autor do livro Tabuvale lançado pela editora Biblioteca24horas, no qual criou um mundo fictício, Tabuvale, que possui quatro divindades supremas, os Visões. Posteriormente, publicou Cria e Trinca, ambos lançados pela editora Appris, cujo conteúdo explora o mundo místico de Tabuvale.
Livro maravilhoso. São estorieta envolvente que instigando a imaginação do leitor. incrível!!!
Sou professor da Rede Estadual de Educação do Ceará e atualmente estou como Regente do Centro de Multimeios da EEMTI Maria Menezes Cristino. Li, gostei e recomendo a leitura dos livros Tabuvale, Cria e Trinca, do professor e escritor Paulo Souza. Em referidas obras o leitor entra em contato com estorietas de um mundo fictício, marcado por misticismos, algo bastante comum em comunidades rurais e isoladas. Vamos a leitura?