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Por Maria Antonieta Iadocicco, autora de O Tempo Parou: Assim que Recebeu o Primeiro Tapa

 

Normais e leis nacionais e internacionais afirmam a urgência de reconhecer que a violência doméstica e familiar é inaceitável.

Em pleno século XXI é comum ouvirmos ainda comentários como:

– Apanhou, porque mereceu!

– Apanha e não larga, é mulher de malandro.

– Alguma coisa de errado ela fez para apanhar assim.

– Ele não suportou perde-la, por isso cometeu essa loucura.

É visível perceber o preconceito impregnado na sociedade que julga a mulher, imputando-lhe a culpa e para o homem sempre haverá uma justificativa como: estava nervoso, perdeu a cabeça, teve um dia ruim, bebeu um pouco a mais… até a morte tem a desculpa que foi pela defesa da honra.

A violência não é só um ato de agredir fisicamente, está presente também sob diversas formas e intensidades que violam os Direitos Humanos. Está presente na pressão psicológica, violência sexual, patrimonial e moral.

Para Juliana Belloque, defensora pública do Estado de São Paulo: “Existe um ‘vicio’ de só enxergar gravidade importância na violência física, e outros tipos de violência não importam quando há uma visão viciada. E foi com isso que a lei Maria da Penha quis muito claramente romper quando explicou todas as formas de violência e todo o conceito de violência doméstica em seus primeiros artigos. É preciso entender que a violência física é só mais um traço de um contexto muito mais global de violência, que inclui a violência moral, humilhações, a violência psicológica, a restrição da autodeterminação da mulher”.

Segundo estudos multipaíses da OMS realizado no Brasil, cerca de 30% das mulheres que afirmam ter sofrido agressões pelo parceiro declaram ter sido vítimas tanto de violência física como sexual; mais de 60% confirmam ter sofrido agressões físicas e menos de 10% contam ter sofrido apenas violência sexual.

Esse padrão contínuo de abusos reflete em sequelas como: dores no corpo, depressão, abortos e até tentativa de suicídio.

A omissão também é crime, ser conivente com as agressões contra a mulher, criança ou idoso, é uma forma indireta de praticar violência.

É comum criar um ciclo de violência doméstica, que se divide em três etapas:

– Aumento de tensão: criando na vítima uma sensação de perigo constante, causadas pelas tensões do cotidiano, injúrias, ameaças vindas do agressor.

– Ataques violentos: quando o agressor molesta a vítima física e psicologicamente, aumentando a frequência e intensidade dos maus-tratos.

– Lua de mel: o atroz envolve a vítima em uma teia traçada de carinhos e atenções, pedindo perdão pelos maus-tratos e com a promessa de que isso não irá mais se repetir.

Esse fenômeno que abrange as mulheres é complexo e possui diversas fases, atuando em todas as classes sociais, idades, regiões e credos. Infelizmente essa brutal violência conta ainda com o medo e a passividade por parte das mulheres, que procuram soluções conformistas.

A relutância em levar o espaço privado para o conhecimento no espaço público deve-se por este ser o local onde foram silenciadas por séculos. Sabemos também que a reação de cada vítima é única e deve ser encarada como mecanismo de defesa psicológica, onde cada uma das vítimas aciona um gatilho diferente para suportar a dor e a humilhação para a própria sobrevivência.

Muitas ainda creem que essa violência a que se sujeitam não faz do parceiro um criminoso e por isso, não denunciam. São dominadas, coagidas sexualmente e sob controle de seus agressores que por vários mecanismos exercem nelas o medo, por meio da intimidação, domínio financeiro e emocional.

Surgem questionamentos com base nessas constatações do por que as mulheres se submetem a essa situação de violência dos seus companheiros conjugais? Uma das razões pode estar nos padrões de violência vividos durante a infância na família de origem, entre outros.

A mulher em situação de vulnerabilidade encontra maior dificuldade para se afastar dessa situação. Pensar que a ligação de dois psiquismos que se completam, tornando comum a escolha conjugal no qual um ocupa o papel da vítima e o outro do agressor, criando assim um vínculo doentio.

Portanto, as consequências e traumas causados por esses atos de violência são profundos. Se pensarmos que os agressores passam anos abusando de suas vítimas e que além delas seus filhos também se tornam vítimas carregando consigo sequelas físicas e emocionais por toda a sua vida.

Sempre é bom frisar que embora a mulher seja atingida pela violência em maior número, idosos, crianças, pessoas LGBTIA+ e os próprios homens também são atingidos por ela. Porém, das violências domésticas a mais temida é a MORTE. Essa é a tragédia mais sombria que encerra esse ciclo, destruindo a família.

 

 

Maria Antonieta Iadocicco (São Paulo, 22/09,1955) é historiadora, professora e autora de livros infanto-juvenis, como a Coleção Conhecendo, trabalho acadêmico: história de um certo conselheiro, e pesquisadora com abordagem dos temas: africanidades, povos originários, meio ambiente e resíduos sólidos, Coletâneas de Cronistas Contemporâneos “Somos poucos”, concurso literário Para Sempre “Amor através do tempo”.  Pós-graduada lato sensu na USP em: História econômica da América Latina; Mito e imagens de Zeus; Estética do século XVII; Língua portuguesa e literatura brasileira; e Meio ambiente. Formada em Grego clássico e Francês. Tem como hobbies o desenho realista e a pintura em tela.

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